IEAB – Igreja Episcopal Anglicana do Brasil


Quando as pessoas perguntam pela origem da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), logo querem saber quem foi o seu fundador. A resposta geralmente encontrada nos livros de história geral de que foi Henrique VIII não corresponde à verdade, pelo simples fato de que o controvertido rei não podia fundar algo que já existia. A resposta correta é Jesus Cristo. Todas as igrejas históricas tiveram sua origem nele e se espalharam pelo mundo afora, adquirindo no curso da história características e feições próprias. Algumas se afastaram tanto de seu verdadeiro fundador que perderam suas raízes tradicionais e históricas, sendo por isso consideradas muitas vezes como seitas. Outras conservaram sua origem e tradição apostólica. É o caso da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, que atravessou os séculos sem perder suas características, que datam dos tempos apostólicos. A origem da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil foi fruto da expansão do cristianismo dos primeiros séculos, que alcançou primeiramente as Ilhas Britânicas, passando pelos Estados Unidos no século XVII e chegando finalmente ao Brasil em 1890.

HISTÓRIA

O cristianismo chegou à Inglaterra no século III. Nessa época o território estava sob um processo de colonização romana. Os legionários, mercadores, soldados e administradores levaram à colônia suas leis, costumes e religião. Entre eles havia provavelmente aqueles que tinham abraçado a fé cristã e oravam secretamente a Deus, enquanto os seus companheiros prestavam honras ao império, ao imperador e aos deuses das religiões de mistério. Estamos aqui no terreno das conjecturas. A história não deixou documentos que pudessem provar a veracidade dos fatos. Por isso, nos lugares marcados pelo silêncio da história, encontramos lendas e tradições que falam de viagens missionárias que teriam sido feitas àquela ilha pelos apóstolos Paulo e Filipe e por José de Arimatéia. A primeira referência histórica sobre a existência de cristãos na Grã-Bretanha foi registrada por Tertuliano que, em 208, fala de regiões da ilha que haviam se convertido ao cristianismo. Pouco se sabe sobre esses cristãos durante o segundo século. O certo é que, em 314, três bispos ingleses participaram do Concílio de Arles, no sul da França. Esse fato mostra que já havia uma igreja organizada na grande ilha. No começo do século V, os romanos abandonaram a Grã-Bretanha, permitindo a invasão dos anglo-saxões, que destruíram as igrejas e reduziram a prática da fé cristã durante quase 150 anos. Em 597, o papa Gregório enviou uma comitiva de 40 monges, chefiada por Agostinho, para converter os bretões. A obra missionária iniciada por Agostinho foi consolidada por uma segunda missão romana liderada por Teodoro de Tarso. No final do século X, os dinamarqueses invadiram a Grã-Bretanha e destruíram quase tudo, deixando a impressão que Deus havia se ausentado do mundo. Em 1016, houve uma segunda invasão normanda, mas com a diferença de que o rei era cristão e por isso a igreja foi protegida. Doze séculos depois, a igreja inglesa julgou necessário resistir à antiga intromissão papal, rompendo suas relações com Roma.

SINAIS DE REFORMA

Os primeiros sinais da reforma inglesa que vão eclodir na separação provocada por Henrique VIII, em 1534, começaram, na verdade, com Anselmo (1034-1109), que aceitou o convite para ser Arcebispo de Cantuária sob duas condições: que as propriedades da igreja fossem devolvidas pelo rei e que o arcebispo fosse reconhecido como conselheiro do rei em matéria religiosa. A luta que começou entre a coroa e a igreja confirmou, mais tarde, que a Inglaterra fez sua reforma religiosa debruçada sobre si mesma. Henrique VIII não fundou um nova igreja, mas simplesmente separou a igreja que já existia na Inglaterra da tutela e controle romanos por razões políticas, econômicas, religiosas e até pessoais. Durante quase mil anos a Igreja da Inglaterra esteve sob o domínio direto de Roma. Henrique VIII rompeu essa antiga filiação eclesiástica com o apoio do Parlamento. Separada e independente, a Igreja da Inglaterra continuou sua milenar caminhada na história, alternando períodos de influência ora romanístas, ora protestantes. Em 1559, começou o reinado de Isabel I, e com ela veio o controvertido Ato de Uniformidade, que devolveu à rainha o mesmo poder sobre a igreja que tinha Henrique VIII. A era elizabetana foi um período de apogeu. Foi nessa época que começou a colonização da América, onde a igreja anglicana se desenvolveu rapidamente e se organizou principalmente depois da independência americana em 1776. A igreja americana teve seu primeiro bispo em 1784 e manteve a igreja livre do poder civil. Assegurada a sucessão apostólica, a igreja americana se desenvolveu rapidamente, criando dioceses, paróquias e inúmeras instituições. Em 1824, foi fundado o Seminário Teológico de Virgínia, de onde mais tarde saíram os missionários que estabeleceram a Igreja Anglicana no Brasil.

IGREJAS NACIONAIS

Em diversas partes do mundo, as igrejas anglicanas se tornaram autônomas, ou seja, igrejas nacionais ou regionais (incluindo parte de uma nação ou mais de uma nação), formando o que hoje se chama províncias anglicanas ou igrejas anglicanas em permanente comunhão com Cantuária. Esse conjunto de províncias, igrejas nacionais ou regionais forma a grande família da Comunhão Anglicana. No Brasil, a igreja anglicana se chama Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. A expressão episcopal indica que é governada por bispos e a palavra anglicana, antes de significar inglês, aponta para a grande família cristã internacional. Os anglicanos celebram a sua liturgia em terras brasileiras desde o início do século XIX. Entretanto, a igreja voltada especialmente para os brasileiros começou intencionalmente em 1890, quando os missionários americanos Lucien Lee Kinsolving e James Watson Morris estabeleceram a primeira missão em Porto Alegre. No ano seguinte, chegaram William Cabell Brown, John Gaw Meem e a professora leiga Mary Packard. Esses cinco missionários podem ser considerados como os primeiros fundadores da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil em solo brasileiro. O primeiro culto na liturgia anglicana foi realizado em 1 de junho de 1890, em Porto Alegre que na época, tinha 60 mil habitantes. Logo depois estabeleceram missões em Rio Grande e Pelotas que, juntamente à capital do estado, se transformaram em importantes centros estratégicos para a expansão e desenvolvimento da nascente igreja. Hoje a Igreja Episcopal tem templos, missões e instituições educacionais e assistenciais em 150 diferentes localidades do país, concentrando-se a maior parte no Rio Grande do Sul. Ao longo de sua centenária história, acumulou uma relação de 95 mil membros batizados e 45 mil confirmados. No mundo, os anglicanos são mais de 70 milhões de membros espalhados por 38 províncias, 450 dioceses em 165 diferentes países nos hemisférios norte e sul.

O EVANGELHO

A igreja existe para continuar a obra ministerial e redentora iniciada por Jesus. Esse trabalho é a proclamação do evangelho ou as boas novas da salvação. Deus é o Senhor do universo e da vida e não apenas da parte religiosa. Porque o homem não merece por seus próprios méritos o amor de Deus, esse amor lhe é outorgado gratuitamente. O homem perdoado por Deus em Jesus Cristo vive na companhia dos fiéis e constitui a comunidade da igreja, recebendo nova vida e poder. Deus em Cristo restaurou a natureza decaída da humanidade naquilo que ela devia ser, de modo que aqueles que vivem em Cristo são libertados da escravidão do pecado e uma nova esperança assegura a certeza do Reino de Deus. A razão de ser da igreja é anunciar essa esperança de uma nova vida pela proclamação do evangelho e pelo testemunho individual e comunitário de seus membros.

EVANGELIZAÇÃO

A missão da igreja hoje é proclamar o evangelho nas diversas sociedades e culturas. Em muitos países desenvolvidos, o secularismo passou a ser uma crença alternativa para o homem moderno e sua influência se espalha rapidamente pelo mundo. Entretanto, para a igreja a fé cristã e a ressurreição de Jesus são os fundamentos das boas novas da salvação que ela proclama. A base da evangelização não é a atividade do homem, mas aquilo que Deus fez e continua fazendo na história humana. A Bíblia conta a história da salvação que Deus realizou em Jesus Cristo, culminando com a destruição das forças das trevas, do pecado e da morte na cruz e ressurreição de Jesus Cristo. Portanto, evangelizar é contar a história da salvação não simplesmente como um evento histórico, mas como uma realidade presente para o homem de hoje como indivíduo e como membro de uma coletividade. Numa sociedade pluralista e secularizada, a história da salvação só terá credulidade se sua verdade for demonstrada em termos de adoração e de qualidade de vida das comunidades cristãs locais. Jesus mostrou o poder do evangelho curando, perdoando e transformando a vida dos pobres e oprimidos. Assim também a igreja deve proclamar as boas novas da salvação de tal modo que as vidas dos indivíduos e das comunidades sejam transformadas pelo poder do evangelho.

DOUTRINAS BÁSICAS

A Igreja Episcopal expressa a sua fé nas palavras de dois grandes credos históricos do cristianismo: O Credo Apostólico e o Credo Niceno, que foram escritos no tempo da igreja indivisa e constituem a confissão normativa da fé católica ainda hoje. Mesmo reconhecendo que as afirmações humanas sobre a natureza de Deus são insuficientes para expressar toda a verdade, a Igreja Episcopal Anglicana estimula o estudo e a pesquisa sobre a verdade em todos os campos do conhecimento humano. Não antepõe limites ao estudo e à investigação honesta e favorece o uso da razão como faculdade dada por Deus para enriquecer e ampliar a verdade revelada. Acredita que o Espírito Santo guia os homens na busca da verdade, capacitando a igreja a relacionar a verdade humana à verdade de Deus revelada em Jesus Cristo. A Igreja Episcopal tem na Bíblia a principal fonte de doutrina, cujas páginas registram os fundamentos históricos do cristianismo, embora de maneira não exclusiva. A tradição cristã abrange muito mais do que a Bíblia. Nela se inclui a valiosa contribuição dos grandes santos e pensadores cristãos, a liturgia, o tesouro devocional acumulado durante séculos e as implicações morais da fé cristã na vida diária. A Igreja Episcopal acredita que as Sagradas Escrituras contém toda a doutrina necessária para a salvação e nada que nelas não possa ser lido ou provado por elas pode ser tido como artigo de fé ou necessário para a salvação.

OS SACRAMENTOS

A Igreja Episcopal é uma igreja sacramental. Os sacramentos são sinais externos e visíveis de uma graça interna e espiritual, dados por Cristo como meios seguros para receber esta graça. Os sacramentos expressam a crença da igreja na natureza sacramental do universo e da vida, significando que Deus está presente e atuante na criação em todos os seus aspectos. Esta verdade foi expressa de maneira definitiva pela entrada de Deus na história humana como homem em Jesus Cristo. Existem dois sacramentos: o Santo Batismo e a Santa Eucaristia. Esses dois sacramentos foram ordenados por Cristo como necessários para a salvação, ou seja, são os principais meios de graça sacramental para aqueles que aceitam o evangelho redentor de Jesus Cristo. Há outros ritos, chamados também de sacramentos menores, tradicionalmente aceitos e reconhecidos pela igreja. Embora não tenham sido especificamente ordenado por Jesus, a Igreja Episcopal os reconhece como tendo também caráter sacramental. São cinco os sacramentos menores: a Confirmação, a Penitência, as Ordens Ministeriais (bispo, presbítero e diácono), o Matrimônio e a Unção dos Enfermos.

O BATISMO

A filiação à igreja se dá pelo batismo, que é o sacramento da iniciação cristã, o ato de ingresso na comunidade eclesial. O sinal externo do batismo é o derramamento da água ou imersão em nome da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) e a graça interna e espiritual é a nova vida ou a morte para o pecado e a ressurreição dos mortos. O batismo é o nascimento para a vida eterna, que começa na vida terrena. Pessoas de qualquer idade podem ser batizadas, desde que não tenham ainda sido batizadas. A Igreja Episcopal Anglicana pratica o batismo infantil, como fazia a igreja primitiva, embora os primeiros convertidos ao cristianismo fossem adultos. A igreja é a família de Deus e, como acontece na família terrena, os pais cuidam dos filhos até que adquiram a maioridade para assumirem sua própria responsabilidade. A Igreja Episcopal reconhece como válido qualquer batismo com água feito em nome da Santíssima Trindade. Não pratica o rebatismo. Em caso de dúvida, a liturgia do batismo possui uma fórmula para o batismo condicional. Qualquer pessoa batizada pode participar da Santa Eucaristia e receber regularmente a comunhão.

A SANTA EUCARISTIA

A Santa Eucaristia, também chamada de Santa Ceia, Santa Comunhão ou Santa Missa, é o alimento espiritual por excelência dos cristãos e o principal ato de adoração pública da comunidade local. O sinal externo e visível do sacramento da eucaristia é o pão e o vinho consagrados pelo sacerdote. A graça interna e espiritual é o corpo e sangue de Cristo. Na última ceia com os discípulos, Jesus disse que toda a vez que comermos deste pão e bebermos deste vinho, estamos fazendo isso em sua memória. A palavra que traduzimos por memória vem do grego anamnesis, que significa muito mais do que simplesmente recordar: significa estar presente. A Igreja Episcopal não procura explicar teologicamente como se dá a presença real de Cristo na Eucaristia, esse santo e profundo mistério, que reúne os cristãos todos os domingos há quase dois mil anos, para participar deste pão e deste vinho em comunhão com Deus, com Jesus e com todos os cristãos de todos os tempos e lugares.

A CONFIRMAÇÃO

Na igreja primitiva, o bispo impunha as mãos sobre os novos membros, pedindo os dons do Espírito Santo para guiar as suas vidas no conhecimento e no amor de Deus. Quando grande multidões começaram a se filiar à igreja, os bispos permitiram que os presbíteros batizassem, mas reservaram para si a imposição de mãos. A igreja espera que todo o membro batizado, em determinado momento de sua vida compareça na presença do bispo, principal guia espiritual e sucessor dos apóstolos, para reafirmar sua intenção de viver como cristão e receber o tradicional rito da Confirmação, quando estiver suficientemente preparado para fazer sua própria decisão pessoal de seguir a Jesus Cristo e renovar os votos batismais que os padrinhos fizeram em seu nome. A palavra confirmação vem do verbo confirmar, que significa também tornar firme, fortalecer. É a segunda fase da iniciação cristã. Os primeiros cristãos convertidos na igreja primitiva eram adultos e a imposição das mãos era feita logo após o batismo. A pessoa confirmada assume o compromisso de ser um mensageiro das boas novas da salvação na comunidade local. A Confirmação é sempre administrada por um bispo, que outorga ao novo confirmado a responsabilidade de ser uma testemunha do evangelho no mundo. Para ser confirmada, a pessoa precisa ser batizada, ter aceito Jesus Cristo como seu Salvador e receber instrução própria, para ser um fiel membro da comunidade cristã, a igreja.

A FORMA DE SER

A forma de ser das igrejas anglicanas é para muitas pessoas motivo de confusão, principalmente quando ouvem dizer que essas igrejas são tanto católicas quanto evangélicas, tanto conservadoras quanto liberais, tanto hierárquicas quanto democráticas, tanto ricas quanto pobres. O curioso é que essas afirmações são verdadeiras, porque as igrejas anglicanas são abertas, onde todos esses elementos se conjugam e se completam. O Livro de Oração Comum, o mais importante livro depois da Bíblia, estabelece seu culto não segundo uma opinião individual, mas da igreja como um todo, representando a experiência litúrgica da igreja através dos séculos. Sua doutrina estabelece aquilo que acredita serem os verdadeiros valores morais e cristãos. Na sua longa história, a pastoral e a liberdade individual não determinam automaticamente que os seus adeptos têm de fazer isso ou aquilo, mas que para o seu próprio bem devem seguir os ensinamentos da igreja e decidir por si mesmos. É uma igreja que não despreza o uso da razão e da investigação científica. Sua posição liberal e democrática a coloca em posição privilegiada para dialogar ecumenicamente com os demais ramos do cristianismo.

FÉ E PRÁTICA

Para muita gente, a maneira de ser da igreja anglicana é motivo de confusão. Por exemplo, como ser católico e protestante ao mesmo tempo? Como incluir conservadores e liberais sob o mesmo título denominacional? Como ser uma igreja hierárquica (dirigida por bispos) e democrática (governada pelo clero e povo) ao mesmo tempo? Como entender o conceito da diversidade na unidade? Na prática, isso significa que a Igreja Episcopal não diz taxativamente aos seus membros: “Você tem de fazer isso ou aquilo”. Ao contrário, adota uma atitude de conselho e recomendação: “para o seu bem e crescimento na vida em comunidade, convém que siga o que ensina a sabedoria da igreja, guiada pelo Espírito Santo e pelas Sagradas Escrituras”. Por isso, para ajudar as pessoas que a procuram, a Igreja Episcopal Anglicana oferece conselhos e ajuda pastoral, formação educacional, espírito de solidariedade, adoração individual e pública e os sacramentos da graça de Deus. Jesus disse que da mesma forma em que havia sido enviado pelo Pai, assim Ele também nos enviaria (João 20:21). Baseada nesse princípio, a Igreja Anglicana focaliza sua missão universal em cinco pontos:
– proclamar as boas novas do Evangelho;
– batizar, ensinar e nutrir pastoralmente os fiéis;
– servir com amor aos necessitados;
– lutar pela transformação das estruturas injustas;
– zelar pela integridade da vida em todas as suas manifestações.

ORGANIZAÇÃO

Há três níveis de organização administrativa na Igreja Episcopal: a congregação local ou paróquia; a diocese, formada pelas paróquias e missões de uma determinada área geográfica e dirigida por um bispo; e a igreja nacional. O principal líder nacional é o bispo primaz. O órgão legislativo máximo é o Sínodo, que se reúne a cada três anos, para aprovar as leis e os programas nacionais. O Sínodo é formado por duas câmaras: uma de bispos e outra de clérigos e leigos eleitos pelos respectivos concílios diocesanos. Para executar os programas e projetos aprovados pelo Sínodo é eleito um Conselho Executivo, que representa a igreja e é presidido pelo bispo primaz. Além disso, cada diocese realiza um concílio anual, formado pelo clero e representantes leigos das paróquias e missões, para realizar o trabalho nessa área menor da igreja que é a diocese. A exemplo da igreja primitiva, a autoridade suprema da Igreja Episcopal Anglicana reside na própria igreja como um todo e não em algum indivíduo ou grupos de indivíduos. Dessa forma, nenhuma doutrina pode ser considerada como norma de fé sem a sua aceitação pela igreja toda, reunida em concilio universal em que a igreja inteira esteja representada por delegações devidamente credenciadas. O ministério da Igreja Episcopal é exercido por três ordens: bispos, presbíteros e diáconos, em sucessão histórica desde os tempos apostólicos. As mulheres também participam do ministério ordenado em igualdade de condições com os homens.

COMO SER MEMBRO DA IGREJA EPISCOPAL

A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil possui quatro categorias de membros: membros batizados, membros comungantes, membros confirmados e membros em plena comunhão. Membros batizados são todas as pessoas que receberam devidamente o santo batismo e estão arroladas numa paróquia ou missão. Membros comungantes são todas as pessoas batizadas que participam assiduamente da Santa Eucaristia. Membros confirmados são todas as pessoas confirmadas segundo o uso e preceitos do Livro de Oração Comum, e aquelas que, confirmadas por outros bispos de sucessão apostólica, foram devidamente recebidas em comunhão por um bispo da Igreja Episcopal Anglicana. Membros em plena comunhão são todas as pessoas confirmadas que participam assiduamente da Santa Eucaristia e outros ofícios e contribuem fielmente para a manutenção da igreja. Para ser membro da Igreja Anglicana, fale primeiramente com o reverendo da paróquia ou missão mais próxima de sua casa. Ele vai lhe orientar a partir de sua vontade de se filiar à igreja. Certamente você terá de participar dos cultos dominicais e das classes de instrução para aprender mais sobre Jesus e sua Igreja. Se já foi batizado, será natural que em algum dia seja apresentado ao bispo para a Confirmação. Caso já tenha sido confirmado na Igreja Católica Romana ou na Igreja Ortodoxa, será recebido pelo bispo à comunhão da igreja. Qualquer pessoa batizada, confirmada ou recebida em comunhão pelo bispo, que comunga assiduamente e contribui regularmente para o sustento da missão da igreja, é considerada membro da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.

CASAMENTO E DIVÓRCIO

O casamento cristão é um sacramento, um ato solene e público de uma união espiritual e física entre um homem e uma mulher, celebrado por consentimento mútuo e íntimo e com a intenção de que seja por toda a vida. A Igreja Episcopal Anglicana celebra o matrimônio entre duas pessoas de sexos diferentes depois de cumpridas as seguintes exigências:
– prova de habilitação para o casamento de acordo com a legislação civil;
– publicação dos proclamas;
– palestra do celebrante com os nubentes em caráter pastoral;
– um dos nubentes seja batizado.
A celebração do casamento é um ato público e só pode ser realizado na presença de, no mínimo, duas testemunhas, em dia, hora e local previamente anunciados. A Igreja Episcopal não realiza casamentos por procuração. Também não podem casar os já casados só no religioso e os impedidos na forma da lei civil do país. Os divorciados podem casar de acordo com a lei civil, desde que ambos freqüentem a igreja durante pelo menos um ano e a cerimônia religiosa seja precedida de novo casamento civil. Qualquer clérigo da Igreja Episcopal, por motivos de consciência, pode se recusar a celebrar qualquer cerimônia matrimonial, sem que tais razões lhe sejam exigidas pela autoridade eclesiástica.

AIDS

A AIDS não é um problema meramente médico. Ela tem também aspectos éticos e pastorais que geralmente não são abordados pela mídia. Sabemos que a medicina ainda não descobriu sua cura. Por isso, o melhor que podemos fazer é adotar métodos preventivos para, pelo menos, limitar a propagação da doença. A orientação da igreja é no sentido de desenvolver urna ética baseada nos ensinamentos bíblicos, embora sabendo que nem todas as pessoas se comportam segundo os padrões recomendados pela ética cristã. A Igreja Anglicana não considera a AIDS um castigo de Deus sobre o comportamento humano, nem adota uma atitude de condenação da enfermidade. Ao contrário, procura orientar com programas educativos os aidéticos e seus familiares, os quais necessitam do apoio pastoral da igreja. E faz isso da mesma maneira que trata as vítimas de outras doenças, terminais ou não. Na verdade, as pessoas hoje precisam revisar seu estilo de vida moral para buscar um comportamento mais sadio e reforçar a fidelidade no casamento e a castidade fora dele, que são os meios mais seguros de evitar a doença.

A CONDIÇÃO HUMANA

O ser humano foi criado para ser a imagem e semelhança de Deus no mundo. Isso significa que a humanidade estava destinada a ser e a viver como uma grande família, uma harmoniosa comunidade universal, que refletisse a qualidade de vida que está no próprio ser de Deus. Os seres humanos, os grupos sociais e as nações foram criados para viver e se desenvolver em sociedade para o amor e para a justiça. Há, portanto, uma responsabilidade recíproca entre as pessoas e os grupos sociais, que deveriam refletir o cuidado e o zelo que Deus tem para com todos. Entretanto, o homem é um pecador que se recusa a refletir a imagem e semelhança de Deus na terra, e vive em conflito com os outros, cria injustiças e viola os direitos dos outros. Geralmente procura assegurar os seus próprios direitos à custa dos direitos dos outros, sejam eles indivíduos, famílias, grupos sociais ou nações. Mas em Jesus Cristo Deus libertou a humanidade dessa escravidão e desse perverso poder, que chamamos de pecado. Ao assumir a nossa responsabilidade, Jesus se esvaziou a si mesmo na morte para nos libertar da agressividade humana e nos capacitar a aceitar a responsabilidade pelo bem estar do mundo. Pelo poder do Espírito Santo somos conduzidos para o amor e para a luta em favor de uma sociedade mais justa, em que os direitos dos outros sejam respeitados e garantidos. É nessa renovadora energia do Espírito Santo que encontramos forças para colocar as estruturas da igreja à disposição para promover os direitos humanos e fazer da igreja a verdadeira imagem e semelhança do Reino de Deus aqui na terra.

O LIVRO DE ORAÇÃO COMUM (LOC)

A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil é uma igreja litúrgica que se expressa no Livro de Oração Comum, que é uma espécie de Bíblia da adoração comunitária e individual. Mais da metade de seu conteúdo é retirado da Bíblia. As principais partes do Novo Testamento estão nas porções das epístolas e dos evangelhos, que são lidos aos domingos e nos dias de festas litúrgicas. As passagens bíblicas contidas no lecionário sugerido pelo Livro de Oração Comum possibilitam uma leitura sistemática do Antigo Testamento e duas leituras do Novo Testamento durante o ano. As orações da igreja sempre foram oferecidas a Deus por um livro desde os tempos primitivos. A Igreja Episcopal Anglicana não fez outra coisa senão seguir a antiga prática. O tradicional Livro de Oração Comum foi entregue para uso da igreja em 1549. O livro inglês não era um livro novo, mas o produto reformado de antigas liturgias usadas e desenvolvidas ao longo de um milênio. Desde o começo do século XI, prevaleceu na Inglaterra o Uso de Sartim, nome latino da cidade e diocese de Salisbury, que forneceu a principal estrutura litúrgica do livro. Vários critérios nortearam a revisão do livro de Oração Comum brasileiro depois de 1965, quando a Igreja Episcopal passou a decidir sobre seus próprios formulários litúrgicos: uso na língua do povo, participação efetiva da congregação, simplicidade do rito, equilíbrio entre palavra e sacramento e fidelidade bíblica e patrística. A expressão oração comum significa que as orações são usadas em conjunto, quando os membros da comunidade se reúnem para adoração. Mas podem ser usadas também individualmente, porque nenhuma dessas duas formas de adoração – individual e comunitária – é completa sem a outra. Em Cristo somos tanto indivíduos como membros uns dos outros.

O MINISTÉRIO ORDENADO

Desde os tempos apostólicos, se desenvolveram três ordens de ministros na igreja cristã: bispos, presbíteros e diáconos. A primeira ordem é o diaconato. O diácono é um auxiliar do presbítero na administração dos sacramentos, na instrução do povo, no batismo e na pregação, se para isso foi autorizado pelo bispo. Quando está oficiando, o diácono usa por cima dos paramentos uma estola sobre o ombro esquerdo como sinal de seu ofício. A segunda ordem é o presbiterado, também conhecido como sacerdócio. O presbítero celebra os sacramentos, administra a doutrina e a disciplina da igreja e é o pároco e líder de uma paróquia ou congregação. O presbítero usa a estola sobre os dois ombros como símbolo de seu ofício. O diácono e o presbítero são também chamados de pastores, reverendos ou padres, que são títulos de honra pela função que exercem na igreja. A terceira ordem é o episcopado. O bispo é um presbítero sagrado para ser o pastor-chefe da igreja. É ele que ordena os diáconos, os presbíteros e outros bispos e administra a Confirmação. O bispo é admitido no ofício episcopal segundo a histórica tradição dos apóstolos pela imposição das mãos de três outros bispos. A palavra episcopal significa que a igreja é governada e liderada por bispos que, em virtude de sua função histórica, são considerados como símbolos da unidade cristã.

SÍMBOLOS

A Igreja Episcopal Anglicana acredita que Deus é o Criador de todas as coisas e que está continuamente se revelando na sua criação. A igreja expressa essa verdade através da riqueza de sua adoração e do permanente uso dos dons terrenos que Deus nos concede: os edifícios, os templos, a música, a arte sacra, os paramentos e outros materiais de uso litúrgico. As flores e outros objetos que ornamentam o altar embelezam a igreja e simbolizam a alegria da igreja pela ressurreição de Cristo e a verdade de que Jesus é a luz do mundo. As cores do altar e os paramentos do oficiante representam os grandes temas do evangelho e da vida cristã, como a penitência, o sacrifício, a pureza de vida, a vitória sobre o pecado e a perfeição desejada. As cores mais comuns são o branco que simboliza a pureza, o roxo que simboliza a penitência, o vermelho que simboliza o Espírito Santo e o verde (a cor da natureza) que representa a universalidade e a esperança. As vestes são usadas pelo oficiante em obediência a um antigo costume da igreja, simbolizando a natureza e a função do ofício e não a importância da pessoa. As vestes lembram também a natureza democrática da igreja: os que ocupam o mesmo cargo ou exercem a mesma função se vestem da mesma maneira.

PARTICIPAÇÃO

Um princípio básico da adoração anglicana é a participação de seus membros no culto que prestam a Deus, não para receber alguma coisa em troca ou cumprir uma obrigação social, mas para prestar espontaneamente sua gratidão e louvor ao Senhor da vida e do universo. Esta participação aparece no ato de ajoelhar, orar, cantar, ouvir o sermão, comungar e fazer a saudação da paz. São ações externas de adoração que representam uma devoção interna. A Igreja Episcopal dedica grande reverência ao templo, um lugar sagrado, onde o povo se reúne para adorar e orar. Muitas vezes isso é interpretado como sinal de frieza pelos estranhos. Essa reverência significa que Deus “está no seu santo templo” e diante dele toda a terra devia se calar. A igreja é um lugar santo. Os episcopais encontram também muita alegria na sua igreja, nutrindo uma grande afeição por ela. Quem participa de um ofício na Igreja Episcopal sai com um sentido mais profundo de ser membro e pertencer a uma grande família cristã. Em qualquer parte do mundo, o episcopal encontra no Livro de Oração Comum a maneira familiar de adorar e descobre que sua vida é ricamente abençoada por Deus em sua santa igreja.