Mensagem de Aniversário da Diocese Anglicana de Pelotas

Data: 14/03/2012

 

ANIVERSÁRIO DA DIOCESE –12/03/2012

Por Loide M. Montezano

Queridas irmãs e queridos irmãos, é com muita alegria que nos reunimos hoje, na Catedral Anglicana do Redentor, para celebrarmos mais um aniversário de criação da Diocese Anglicana de Pelotas.

Em 12 de março de 1989, muitos de nós estávamos reunidos aqui, juntos com irmãs e irmãos da Diocese Meridional.

Ter uma Diocese na Zona Sul foi um sonho pensado e concretizado pelo clero e o povo desta região.

Com as bênçãos de Deus, estamos comemorando 23 anos. Nossa Diocese é jovem, ainda. Ter 23 anos é vislumbrar uma longa existência pela frente, cheia de sonhos, repleta de esperanças e plena de amor para que se tenha vida e vida em abundância, como sugere o lema da nossa Diocese.

Agradeço a Dom Renato pelo convite para que deixasse uma mensagem às irmãs e irmãos, neste ofício de ação de graças.

Eu não teria muito tempo para pesquisar, por isso apelei para a memória que, na idade em que estou, já não é tão boa. Resolvi reviver um pouco da história das Diocese Anglicana de Pelotas.

Então, me veio à lembrança a sagração de Dom Luíz Osório Pires Prado, na Catedral de Santíssima Trindade, em Porto Alegre, a Sagração de Dom Sebastião Armando Gameleira Soares, na Igreja da Luz e a Sagração de Dom Renato da Cruz Raatz, aqui na Catedral!

Pensei no perfil de cada um desses Bispos e das marcas que o pastorado de cada um deles tem deixado nesta Diocese.

Dom Prado com sua personalidade forte e seu falar determinado, às vezes, nos assustava, pois os sonhos que ele tinha para a nossa Igreja nesta região, pareciam utopias. Mas ele não aceitava nosso receio! Providenciava os meios e comemorava conosco os resultados das dificuldades vencidas.

Dom Prado abriu as portas da Diocese para pessoas e organizações de outras províncias, estabelecendo companheirismo, em especial, com a Suíça, a Inglaterra, a Escócia e o Canadá, de onde recebemos apoio de pessoas voluntárias e importantes recursos financeiros

Para Dom Prado, a Educação Cristã para crianças e jovens era fundamental na vida diocesana e a formação teológica do clero e das lideranças seria a garantia de nossa identidade anglicana na Liturgia e em nosso modo de ser.

A primeira década de vida diocesana, a qual corresponde ao episcopado de Dom Prado, foi marcada pelo CETEPEL, pelas Jornadas para Orientadores de Escola Dominical, pelos Encontros Diocesanos de Crianças, pelos núcleos de SAE/UMEAB, pelos grupos de Jovens, pelo Festival de Flores, pelas pastorais: das Gestantes, da Saúde, dos Pequenos Agricultores, dos Pescadores, dos Juvenís, do Dízimo, pela Escola de Mães, pela Piedade Beneditina, pelo Coral Infanto-Juvenil do Redentor, pelas Casas de Crianças, pelas Assembleias do Povo de Deus, pela Casa de Passagem, pelas Filhas do Rei, pelo Ora et Labora, pelo cuidado com a Criação, pela Semana Franciscana, pela preocupação com a disciplina e a ordem na Liturgia e pela boa música na Igreja.

Quando Dom Prado resignou da sua condição de Bispo Diocesano, a Diocese elegeu com entusiasmo Dom Sebastião Armando Gameleira Soares que veio com sua família de lá do nordeste para viver aqui no sul. Dom Sebastião com seu modo simples de viver, seu jeito discreto de se apresentar e seu conhecimento bíblico-teológico, deu um novo rumo para a vida da Diocese. Facilitou e proporcionou oportunidades de experiências ecumênicas. Estruturou o trabalho social que vinha sendo desenvolvido na Diocese e criou a Casa da Solidariedade Irmãs Farias, dando visibilidade para os projetos já existentes e criando novas formas de atendimento às pessoas em situação de vulnerabilidade social. Dom Sebastião apoiou a formação de grupos para estudos bíblicos e trouxe o uso da Bíblia pelo Povo nas celebrações, fortaleceu a Irmandade da Santa Cruz, trabalhou pela valorização dos dons das pessoas e deu condições para a melhoria da comunicação na Diocese, tendo surgido, então, o “Episcopal Anglicano”. Preocupado com o lento crescimento da Igreja na Diocese, Dom Sebastião implantou o Movimento de Cursilhos da Cristandade. Aos poucos, o Movimento de Cursilhos foi tomando espaço na Diocese e, hoje, é, sem dúvida, um valioso meio de evangelização, graças a dedicação de homens e mulheres que atenderam ao chamado de Jesus para trabalharem na sua seara.

Daquilo que foi o propósito inicial desta Diocese e que fazia parte do Projeto de implantação apresentado por Dom Prado, muita coisa boa ficou e a maior parte permanece até hoje, mas, posso dizer, também, que muita coisa boa se perdeu. As Jornadas de Escola Dominical perderam o sentido, pois são raras as Escolas Dominicais nas Paróquias e Missões. Em consequência disso, não há um grande Encontro Diocesano de Crianças, não se concretiza uma Pastoral de Juvenís e os Grupos de Jovens não se consolidam! A Semana Franciscana e a Piedade Beneditina foram quase esquecidas! O “Ora et Labora” e “O Episcopal Anglicano” desapareceram!

Mas há coisas novas muito importantes: as publicações produzidas pela Diocese! Temos o material de preparação para a Confirmação “Confirmando o Compromisso do Batismo”, temos “O LOC como Roteiro para Educação Cristã”, temos a Irmandade de Santo André, temos os Boletins Dominicais regulares, em algumas Paróquias, ajudando a instruir o povo, temos as grandes festas na comunidades rurais, temos os Corais e os Grupos de Música, temos os Festivais de Flores e de Música, temos o Instrumental Ciranda, Temos os Concertos Anglicanos, temos o Grupo Horizontes de Terceira Idade, temos os textos da Igreja Anglicana nos jornais de domingo, temos o Site da Diocese e temos a Rádio Vox Domini. E, por certo, muito mais!

Hoje, ao comemorarmos 23 anos, podemos dizer que a Diocese está reconstruindo seus sonhos e redescobrindo sua verdadeira vocação.

Depois da eleição de Dom Sebastião Armando para a Diocese do Recife, a Diocese Anglicana de Pelotas, com muita maturidade, elegeu, em janeiro de 2007, e sagrou, em abril de 2007, Dom Renato da Cruz Raatz, um filho da terra que, com coragem e confiança em Deus, se dispôs a assumir uma Diocese financeiramente falida e com seu patrimônio ameaçado pelas muitas ações trabalhistas de funcionários e professores do Colégio Santa Margarida.

Com seu olhar tranquilo, mas investigador, de forma cautelosa, mas com determinação, com palavras firmes, mas ponderadas, Dom Renato tem colocado em prática seu Sonho de Esperança para esta Diocese. Vejam, irmãos e irmãs, como as palavras desta canção, escrita por Dom Renato, se aplicam ao nosso momento:

“No mundo que sonhamos, há completa e doce paz; muitos dons nós partilhamos e a esperança se refaz. Semeando liberdade, comunhão, fraterno amor, sentimento solidário, nasce agora com vigor, no mundo que sonhamos, tempo novo haverá.”

É este tempo novo que experimentamos viver nesta Igreja Diocesana.

Ao longo desses 23 anos, perdemos muito patrimônio: lembramos com tristeza que não temos mais o Instituto de Menores de Canguçu, nossa Casa de Crianças para meninos, com sua bonita história; a casa do Bispo e o Escritório Diocesano se foram. E, nesta avalanche, o Colégio Santa Margarida, nossa Escola Diocesana, depois de muito sofrimento, também foi vendida.

Ainda que por várias vezes indicado para ser vendido, sobrevive no patrimônio diocesano, o Instituto Reverendo Severo da Silva, nossa Casa de Meninas, hoje Centro de Convivência Reverendo Severo. Eu ajudo a cuidar desta casa, há mais de 20 anos, desde o tempo em que havia meninas no internato. No inverno de 2009, Dom Renato me chamou e disse que a Diocese não tinha mais como manter o Instituto Reverendo Severo. Eu lhe respondi que eu gostaria de continuar cuidando do Instituto, sem custo para a Diocese, junto com a Sra. Rosane Ferreira da Rocha, que trabalha conosco, no Instituto, desde o ano 2000. Dom Renato e a Secretaria de Finanças da Diocese nos confiaram o Instituto e esta tem sido uma experiência positiva, mas nada fácil!

Rosane e eu, às vezes, em tempos difíceis, buscamos alento, em uma canção de Chico Buarque de Holanda, gravada pela Maria Betânia, na década de 70, que se denomina Sonho Impossível. Uma parte da letra também se ajusta a nossa atual situação diocesana. Vejam só!

“Sonhar mais um sonho impossível! Lutar, quando é fácil ceder! Negar, quando a regra é vender! Quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz? E assim, seja lá como for, vai ter fim a infinita aflição e o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão!”

Para nosso bispo, Dom Renato, o importante é que, em meio a tantas perdas patrimoniais, não perdemos a fé e não morreu nossa esperança, pois, com trabalho, solidariedade, seriedade e confiança na misericórdia de Deus, nós podemos reconstruir nosso projeto de Diocese e realizar nosso sonho de esperança e seremos capazes, pela graça de Deus, de fazer brotar muitas flores neste chão, no qual parecia que íamos afundar!

Quero encerrar minha mensagem convidando a todos para cantarmos “Graça e Louvor”, a canção da Diocese Anglicana de Pelotas, composta por Dom Renato, Rosa Maria Lamego, Loila Weimar e João Carlos Gottinari.